segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A questão não é essa. A questão é outra. A questão é o que se perde nas palavras que não foram ditas. O que se distorce naquelas que foram. O que não se compreende por um pensar tão egoísta. É no vão entre tua boca e meus ouvidos que a palavra se perde. As letras dançam em movimentos de ula ula e sobressaltam os significados almejados. Uma confusão toda desnecessária nesses monólogos a dois. E quão grande seria o desejo de ser entendido? Talvez não tão grande assim, pois que entender a tudo poderia ser pior. Talvez a imaginação preencha esses espaços vazios em que a palavra se perde. E quão grande é essa necessidade de dizer? Esse desejo de fazer com que esses pensamentos habitem outras cabeças, ou ao menos cruzem saltitantes essas voltas de suas orelhas, mesmo que logo deixem de ali estar. Mas você entendeu tudo errado. Eu entendi tudo errado também. Pois sabemos que a palavra não dá conta, mas ela conforta com abraços que um abraço às vezes não consegue. O porquê de uma necessidade tão grande de dizer? Na dúvida que corrói os dedos na indecisão de pressionar o "enviar", de mover os lábios e soltar a voz que tenta se conter, entrego-me ao desejo, mesmo que momentâneo e tão titubeante, de dizer. De dizer o que é tão fácil de se compreender e de estar disposta a desenrolar todo o emaranhado de significados inventados no tropeço do uso das palavras, na interpretação apressada ou fantasiosa de um tom de voz que soou capenga. Essas maquinações e engodos criados para ocultar o que realmente devia ser dito são uma perda de tempo, ocultam mais do que o que desejam esconder, ocultam o próprio propósito a que foram criados e, mais uma vez, o sentido se perde. Talvez estejamos todos perdidos, perdidos nas palavras que deixamos de dizer, imbuídos e impregnados por demais em nossos próprios pensamentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário