segunda-feira, 20 de julho de 2015

waking up  or dreaming?




se pudesse escolher
escolheria um apartamento pequeno
feito de pequenas memórias
bagunças minhas
e organizações suas
de paredes coloridas
menos rosas e amarelas
porque não combina com a gente
um guarda-sapatos com madeira de caixas de uva
e um porta-retrato feito por mim
com algum material das minhas caixinhas de arte
pra colocar aquelas fotos estranhas
que você tira da gente
mas antes de se perder nas minhas tralhas
queria fazer-te perder em meio aos nossos lençóis
e não haveria para onde ir depois que brigássemos
senão para nossos próprios braços
acordar e olhar sua feição pela manhã
que tanto acalenta meus medos e inseguranças
esperando que eu possa fazer o mesmo por você
– mesmo ante tantas delas 
tempo com a gente parece ser algo sempre bem subjetivo
e sei que tenho minhas ânsias e urgências
mas quero te esperar
porque alguma coisa diferente cresceu aqui
e não sei bem o que faria se deixasse de estar
a cortina da sala está aberta
o sol bate na nossa cara
e ilumina seu rosto 
seu sorriso inocente
e penso que não queria estar em lugar nenhum
senão aqui com você
até que o dia amanheça
e eu possa estar mais uma vez ao seu lado.



ao som de somerset ~ by dowsing 

segunda-feira, 6 de julho de 2015

closed windows

escrevi uma carta
e por algum motivo
nunca te mandei
guardei comigo
e recitei fragmentos 
em meio a conversas fúteis
e assuntos irrelevantes
será que você chegou a reparar?
entrei nesse jogo infantil
de querer me fazer entender
da maneira mais difícil
e eis que me deparo
com minha constante contradição
de algo que demando
e que no momento
me recuso a lhe entregar
- por ressentimento?
num movimento canibalístico
de comer os próprios dedos
me ponho a questionar
se sou eu quem deveria ceder
se a reciprocidade deveria ser da mesma natureza
se a atitude passiva é o bastante
se o toque vale mais palavras
muito se diz das palavras não darem conta
do que o sentimento diz
mas nunca se pensa o contrário
quando ações não acalentam tanto
quanto letras postas juntas
desse poder que elas têm
de publicar o que é privado
de fazer uso dessa ponte que existe
entre ouvido e coração
não rasguei a carta
lembro cada frase que lhe escrevi
lembro cada vez que lhe disse o conteúdo dela
e cada vez que me contive
- quantas vezes! - 
por qual motivo?
não saberia dizer 
sem soar como uma criança emburrada
insatisfeita
que acha que o mundo
gira em volta dela
marcas de cerveja no papel de carta
palavras escapam de vez em quando
um egocentrismo velado
de pensar que é dever do outro
ser como espero
num movimento de não seguir os próprios conselhos
varre-se tudo pra debaixo do tapete
e quando penso em expor isso tudo
você faz meu chão cair
faz-me ver o que não sai da tua boca
ainda assim
insisto
que troque os órgãos do sentido
vez ou outra
se possível.