terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Quando estou aqui, engolida por textos e teorias, por tantas palavras que deveriam ser apenas mais uma obrigação acadêmica, me pego em delírios e divagações. A repetição, a distância... Os dois lados da moeda: a repetição como reprodução de um cotidiano vazio, uma compulsão dolorosa que insiste em reaparecer; e a repetição como possibilidade de criação, de mudança. Dizem que fazer a mesma coisa esperando resultados diferentes é burrice. É. Faz sentido. A confiança na resolutividade das coisas através da palavra se esvai com o tempo. Tem certas coisas que as palavras não dão conta entre a gente – entre a gente. Pois que dizer isto contraria muito as minhas crenças. Não digo, entretanto, apenas da palavra dita, mas da palavra sentida, da palavra tocada, da palavra pensada nessa distância entre dois, nesse precipício que existe entre a minha mente e a tua. Não vou acreditar nas palavras de outrem, acredito na tua palavra  – aquela, criada na minha cabeça. Se essa coincide com o que tu pensas nunca saberei, pois que falar parece tão difícil... Me envolvo, me machuco, me reergo, esqueço-me de tudo, me envolvo e me machuco novamente. Quem disse que diálogo resolve tudo não conheceu algo semelhante a nós dois. Mas se não o diálogo, o quê? Vou enterrando tantas instâncias pendentes, sabendo que voltarão como mortos-vivos a me perseguir em breve, revolvendo-se em terra, encrustados da sujeira desse passado presente. Mas essa compulsão à repetição se instala, e não sei dizer por quê, visto que nunca – realmente nunca desta forma tão consciente – havia passado por algo desta ordem, do doloroso que se impõe em benefício de um êxtase inominável. Realmente sem nome, pois ainda não entendo sua natureza ou o que me prende a isto. É do prazer de um momento que passa, é da segurança tão incerta em teus braços. Continua parecendo burrice quando da análise objetiva dos fatos, mas há algo de um prazer que me engole nessa repetição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário