tua memória não afaga, mas causa um prurido incômodo e a pele de repente fica desconfortável cobrindo os ossos. a alma esmorece, esfumaça e perde a cor. o nariz inspira dentro d'água e o pulmão se enche de lama, afoga-se em goles terrosos de um passado que volta a doer. o tilintar de copos ecoa ao fundo, abafado por risadas, choros e soluços. e não tem nada que amorteça a dor de viver, a não ser o sono, de morte. paz de cemitério. a beleza do que vive em meio a morte, do que ainda floresce das entranhas e restos do que foi e não tem mais razão de ser. e o que sobra é só o resto de nós. mas o resto é pouco, e pouco não basta.
Foto: Cemitério Municipal São Pedro - São Paulo (SP)
21/03/2014