Era hora. Num ímpeto Gustavo decidiu largar sua vida pacata
de quem trabalha por um salário mínimo para sustentar seus vícios e suas putas.
Decidiu pegar uma mala e sair por aí, vagar pelo mundo. Não parecia haver muita
perspectiva nisso, mas foda-se, ele nunca teve perspectiva nenhuma. Gustavo não
era um cara sério, não era supersticioso, usava desodorante todos os dias mas
tinha um cheiro peculiar. Não se importava com barba bem feita mas, em alguma
medida, gostava de olhares sobre ele, típico histérico que finge e/ou acredita
não ligar pra opinião dos outros. Enfim, decidiu arrumar sua mala. Era uma mala grande, daquelas
retangulares e rígidas, marrom escura. Gustavo, no entanto, se deu conta de que não tinha
nada pra por na mala, não tinha nada pra levar. Ele era um cara comum, não
muito sorridente. Queria se convencer de que era feliz, mas, qualquer um que se
detivesse por alguns momentos olhando seu rosto, veria que ali jaz uma grande
tristeza travestida em excessos e indiferenças. Suas putas nunca significavam
nada, ele achava que era só diversão, prazer imediato – mais fácil que ter que
lidar com gente. Pra ele era só porra. Só isso. Pegou sua mala vazia e deixou pra
trás sua quitinete suja. Não levou nenhuma troca de roupa. Ficar vagando pelas
ruas, sem dinheiro, sem putas e sem drogas o deixou desnorteado. Não sabia pra
onde ir. Não tinha pra onde ir mesmo. Talvez tivesse saído achando que sozinho
fosse “se encontrar”, mas não encontrou ninguém. Voltou pra casa. Tocou a campainha mas ninguém atendeu, a casa também estava vazia.